Editorial

Diferenças também devem aproximar

Inúmeros disparos. À queima roupa, para ferir, visando atingir também moralmente. Tudo com o objetivo de acirrar ânimos. Pode parecer uma descrição do atentado criminoso protagonizado pelo ex-deputado cassado Roberto Jefferson (PTB) contra agentes da Polícia Federal, no último domingo. No entanto, é também um resumo do que tem sido a relação entre diferentes partidos e campos políticos brasileiros nos últimos anos.

No entanto, alguns movimentos têm chamado a atenção no sentido oposto. Embora a grande maioria dos políticos persista em seguir agindo irresponsavelmente ao tratar adversários como inimigos, exibindo um catálogo interminável de ataques que ultrapassa a disputa ideológica ou eleitoral e se transforma em lenha para uma fogueira de violência cujas chamas já estão bem altas, por outro lado há quem esteja percebendo que o momento exige da política o seu óbvio: a busca por entendimento.

Se antes acusações, mentiras e insultos faziam parte apenas do ambiente virtual, das redes sociais, as últimas semanas mostraram aos cidadãos que vão às urnas que, caso queiram conhecer as propostas para o Brasil e o Rio Grande do Sul, não poderão contar com a colaboração dos candidatos. Aqueles cuja principal tarefa deveria ser mostrar o que têm de melhor estão dedicados de corpo e alma ao inverso: gastam horas de campanha destruindo a reputação do adversário. Agressividade que, inevitavelmente, transborda do rádio e da TV para as ruas.

Felizmente, em contraposição a isso, gestos que partem de alguns parlamentares e líderes políticos indicam caminho alternativo. Representantes de siglas com claras divergências programáticas se aproximam para o diálogo. Mesmo deixando nítidas suas diferenças, ressaltam a necessidade de partir para a construção ao invés da terra arrasada. Naturalmente, em ambiente de tamanha polarização cujo padrão é a hostilidade, há críticas a esse tipo de aproximação: seriam politicagem, interesses meramente eleitoreiros. Pode ser, só o tempo dirá. Contudo, é preciso recordar que em um passado não muito distante esse tipo de conversa fazia parte do dia a dia da política. Algo sem o qual era impensável governar ou fazer oposição. As trincheiras eram somente em sentido figurado, raramente configurando em investidas extremistas.

Esse tipo de belicosidade precisa perder espaço. É fundamental a retomada do entendimento que existam ao menos as capacidades de ouvir, ponderar e buscar pontos comuns. Sem isso, restam ignorância e divisão. Por isso, é um respiro saber que há gente desembarcando dos radicalismos por entender que as diferenças devem aproximar. São elas que impulsionam à evolução. Isso, sim, é fazer política e governar.

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